domingo, 8 de fevereiro de 2009

O PROFESSOR EM 2018 - Pura ficção?

A primeira aula é presencial: o professor faz a sua apresentação e o mesmo é feito por cada aluno, com detalhes, dos hobbys, das actividades, das perspectivas.
O professor mostra para os alunos a importância do curso, a forma de trabalhar a distância, mas ligados audiovisualmente. Apresenta o plano do curso, explica as actividades principais, organiza actividades de pesquisa. Abre a discussão para dúvidas e sugestões. Os alunos fazem algumas simulações do ambiente virtual, para nivelar o conhecimento tecnológico de todos, para facilitar o uso das ferramentas a distância que acontecerão daquele momento em diante.
Uma câmara grava o que acontece na sala de aula e fica automaticamente disponibilizada, para quem queira aceder depois, ou para quem não pode comparecer, ou ficar até o final.

A primeira actividade a distância é cada aluno gravar um pequeno vídeo de apresentação e coloca-lo em rede, no perfil do aluno. Assim cada colega pode ver quem fez um comentário interessante ou estranho.
Os alunos têm a planificação do curso na Internet por escrito, com um pequeno vídeo explicativo do professor sobre as primeiras actividades da semana. Nessa primeira semana, além do preenchimento do perfil, cada aluno faz um levantamento dos vídeos, reportagens, textos sobre o primeiro tema do curso: experiências inovadoras no ensino superior. Assistem aos vídeos, comentam os pontos interessantes de cada um e escolhem um para comentar e mostrá-lo para a turma Gravam uma introdução ao vídeo seleccionado e escrevem um texto destacando os pontos inovadores da experiência que o vídeo mostra. Disponibilizam a actividade na Internet reservado para a actividade 1 e guardam uma cópia no portfólio ou na biblioteca pessoal de cada um.

A primeira actividade é a leitura de um texto sobre “As mudanças que a Internet trouxe para o ensino superior nos últimos quinze anos”. O texto tem uma introdução em vídeo gravada pelo professor e umas actividades no final com comentários explicativos gravados também pelo professor. O texto e os dois trechos de vídeo estão disponibilizados no tópico 1 do módulo 1 dos materiais do curso na página WEB do ambiente virtual interactivo de aprendizagem. O texto remete para uma pergunta colocada pelo professor no fórum e que os alunos irão respondendo no prazo máximo de quatro dias.

Além do texto, a agenda do curso prevê também uma actividade de pesquisa em listas de discussão de educação superior, sobre novas questões que as tecnologias trazem para o ensino superior. Os alunos inscrevem-se numa lista, comentam como o tema esta a ser discutido a partir das mensagens gravadas na forma de texto e de áudio e elaboram um relato sobre as principais questões. Esse relato fica disponível no portfólio ou biblioteca virtual de cada aluno no formato texto e áudio para acesso pelo professor e pelos colegas do curso.

O professor marca um video-chat de atendimento de uma hora em dois horários diferentes da semana, para que todos possam ter oportunidade de participar e para evitar a aglomeração de alunos no mesmo momento. Os alunos conectam-se de onde estão pela Internet, pelo telemóvel, pela tela da televisão e vêem o professor, ele também vê os alunos. Alguns enviam as perguntas por escrito; outros fazem-no ao vivo. O professor tem uns comandos que lhe permite escolher a mensagem que quer priorizar. Se um aluno demora na pergunta, envia-lhe um sinal. Se demora demais, pode interrompê-lo. Professores e alunos podem estar conectados nas suas casas, no trabalho ou viajando a partir de conexão sem fio (wireless). Orienta também os grupos de pesquisa. Termina o video-chat. Desfaz-se a conexão. O professor, se quiser, coloca o vídeo como arquivo para consulta, para que os participantes acedam depois com mais calma. Pode pedir a um assistente ou monitor que edite o material, retire mais a parte social da conversa e deixe só o que interessa a todos do ponto de vista pedagógico.

O professor entra agora num curso de pós-graduação e acompanha as actividades que os alunos enviaram no programador de tarefas. Corrige algumas e deixa outras para mais tarde, porque agora tem que preparar-se para uma tele-aula em rede nacional, que vai atingir milhares de alunos simultaneamente. Revê o roteiro preparado por ele e pela equipe pedagógica e de produção. Vai para o estúdio de TV, testa os equipamentos, o microfone, as transparências electrónicas, as vinhetas, os vídeos. Os alunos aguardam-no em tele-salas com cinquenta alunos em média, com telão, projector multimédia, uma câmara local que regista o que acontece e é vista pelo professor remotamente. Em cada tele-sala há um tutor, um auxiliar que já recebeu antes o roteiro da aula, as instruções sobre as actividades que os alunos realizam agora durante a preparação para a aula, as que acontecerão em determinados momentos ao longo da aula e as que serão realizadas posteriormente para aprofundar conceitos, fazer pesquisas mais organizadas, chegar a conclusões. Quem não pode ir a uma tele-sala, acede à aula de onde se encontrar.

O professor observa os alunos fazendo as actividades iniciais localmente, através dos monitores (vídeos) remotos. Tem alguns auxiliares, numa sala ao lado do estúdio, separada por vidro a prova de som e vai até lá. Os professores assistentes dão orientações aos tutores, tiram as primeiras dúvidas, encaminham algumas questões para o professor principal. Este escolhe algumas e vai para o estúdio iniciar a tele-aula ao vivo. Alguns alunos não conseguiram naquele momento ir até a tele-sala e ligam-se através de uma antena directa com a tele-sala ou por um canal via Internet de onde estão. O professor começa a aula comentando algumas questões que recebeu de algumas tele-salas, dirige-se a todos com familiaridade, brinca com algumas cidades, alguns tutores de sala mais conhecidos. Faz a passagem para o tema de hoje. Após uma introdução, passa um trecho de um filme que tem a ver com o tema. Comenta as cenas. Explica alguns conceitos, com apoio de PowerPoint animado. Faz uma pergunta com várias alternativas, para que os alunos escolham a correcta. O professor recebe no seu vídeo a percentagem de acertos e erros instantaneamente. Se percebe que o conceito não ficou claro o suficiente, esclarece melhor o ponto anterior. Se a compreensão foi boa, segue adiante. Pede que os alunos realizem uma actividade de aplicação daquele conceito à realidade deles. Os alunos têm quinze minutos para elaborar a sua resposta e enviam-na para a sua área respectiva da Internet.
O professor e os seus assistentes acompanham o andamento da discussão, conversam com os tutores locais sobre a actividade, escolhem algumas respostas para comentá-las no trecho a seguir. Pede, a continuação, que o tele-posto de Lamego no Douro, explique a sua resposta e confronta-a com a de Olhão, no Algarve. Explica as coincidências e divergências e os porquês, e continua com a segunda parte da aula, com uma explicação e um estudo de caso, que será debatido localmente, depois de um intervalo para um descanso de 15 minutos.

Os assistentes neste meio tempo vão recebendo comentários, sugestões, perguntas de cada tele-sala. Respondem algumas, encaminham outras para o professor principal. Há muitas mensagens com elogios ao interesse que a aula está despertando em várias cidades. Alguns pedem que haja mais tempo para os debates, porque está muito interessante. Os alunos têm um controle remoto, com uma série de funções. Depois do descanso, os alunos trabalham o caso em pequenos grupos por 30 minutos, analisam e comparam a sua realidade. O professor acompanha o que acontece nas tele-salas, conversa com alguma em particular, se vê que precisa de maior atenção; os assistentes fazem o mesmo com outras.

Retoma a aula, com o relato de três ou quatro tele-postos diferentes dos anteriores. Comenta, avança no tema e faz uma rápida avaliação de compreensão de conceitos no fim, ao vivo. Pelas respostas constata se deve retomar o tema ou pode avançar para o tema seguinte na próxima aula ao vivo, na semana seguinte. Enquanto isso alguns textos serão lidos pelos alunos individualmente e realizados alguns exercícios. Se os alunos tiverem dúvidas poderão recorrer ao seu tutor-local ou ao seu orientador electrónico, sempre o mesmo ao longo do curso.

Na semana seguinte, tem uma aula virtual. Os alunos conectam-se numa sala virtual disponível, previamente agendada e comunicada para toda a turma, sem ter que ir fisicamente à universidade. Os alunos mais carentes ou os que acharem mais conveniente vão a um dos laboratórios da universidade e conectam-se lá. O professor retoma os comentários do fórum, os materiais dos portfólios dos alunos e comenta-os. Abre o debate aos alunos, no vídeo-chat. Abre o whiteboard ou quadro branco electrónico e apresenta alguns tópicos na forma de PowerPoint, enquanto fala. De vez em quando um aluno pede permissão para fazer algum comentário, o que acontece, quando o professor consente. A aula não é longa, para não ser cansativa. Ele enfatiza a importância da pesquisa sobre experiências de universidades com aulas presenciais e a distância e marcam o retorno para a aula presencial, no campus, para a semana seguinte, onde avaliarão todo o processo das quatro semanas virtuais, apresentarão as últimas actividades de forma resumida e farão junto com o professor uma síntese do tema tratado no primeiro módulo.
A última meia hora da aula presencial é para explicar o que vai acontecer na próxima etapa virtual (mais um mês) na passagem para o segundo módulo. A aula é gravada e disponibilizada com vídeo e áudio na página do curso para registo ou acesso de algum aluno que tenha perdido a aula presencial e assim o ciclo continua entre o presencial, o virtual e o presencial de novo até a avaliação final.

O curso de pós-graduação é com trinta alunos de várias cidades de Portugal. É sobre “A aprendizagem colaborativa na educação on-line”. O professor fez uma proposta de curso bem aberta. Ele tem alguns materiais e ideias, que quer compartilhar com os alunos e depois de ouvi-los ir construindo o curso, sem uma agenda previamente determinada. O curso é totalmente a distância, pela dificuldade em trazer os alunos para um mesmo campus, mas utilizarão todos os recursos de comunicação disponíveis pela universidade. O primeiro encontro é uma sala virtual, uma aula onde todos podem ser ver a distância. O professor faz uma rápida apresentação de si mesmo, em seguida os alunos. A aula é gravada por uma câmara para posterior registo. A seguir o professor faz a proposta de um curso plenamente colaborativo. Ele elenca alguns tópicos que lhe parecem fundamentais para a questão da aprendizagem colaborativa. Os alunos vão fazendo suas sugestões e escolhas e escolhem o primeiro tópico para pesquisa: “O que é aprendizagem colaborativa e que autores trabalham melhor esse tema”.
Os alunos organizam-se em pequenos grupos para a pesquisa de textos, autores, experiências sobre aprendizagem colaborativa. Irão colocando os resultados ao longo de uma semana. Todos lerão as colaborações de todos os demais e participarão de um fórum sobre o tema ao longo da semana.

Sete dias depois encontram-se virtualmente e comentam as principais contribuições, que pontos estão claros e o que vale a pena aprofundar. Decidem que o grupo 1, formado por três alunos, aprofundará e coordenará as discussões desta nova semana, centrada entre a colaboração e a cooperação na visão de vários autores. Cada grupo assume a coordenação por uma semana e todos vão decidindo que actividades utilizar semana a semana e que recursos serão on-line e off-line. Cada aluno desenvolverá um projecto colaborativo com uma classe específica e que o acompanhará e avaliará para ser apresentado como trabalho final do curso, com todos os recursos telemáticos e audiovisuais a distância.

O professor, às vezes, sente saudades do presencial. É tão bom encontrar-se, tomar um café juntos. Quase não há mais tempo para fazê-lo. A vida está cada vez mais corrida, as actividades multiplicam-se, os encontros são na maioria virtuais. Por isso os encontros ao vivo tornam-se tão importantes. Os professores falam de como antes todos os alunos tinham que ir a uma mesma sala durante quatro anos, de segunda a sexta feira. Os mais jovens não acreditam. Pensam que isso é do tempo das cavernas! Da pré-história!

O professor faz cursos de actualização. Já está na fase do “pós-doc” – pós-doutoramento. Fá-lo a distância, em Barcelona, e como contrapartida, é convidado por alguns professores da Universidade Autónoma para falar sobre experiências significativas na educação portuguesa, sem sair de Portugal.

Enquanto isso, muitos professores (tradicional), também daqui a dez anos, continuam repetindo seus cursos, sua metodologia, não se actualizam. Repetem. Copiam aulas da Internet e repetem-nas para os alunos. Reproduzem as mesmas actividades, os mesmos assuntos, a mesma forma de avaliar. Dão aulas do mesmo jeito, utilizando o mínimo de tecnologias.