segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

COMUNIDADES DE PRÁTICA (COP)

A minha experiência com os modelos virtuais de ensino e aprendizagem é recente. Tenho, no entanto, a possibilidade de compreender as suas características quer do ponto de vista do aluno, quer do ponto de vista do professor. Do ponto de vista do aluno porque também frequento este doutoramento com fóruns e trabalhos por e-learning, do ponto de vista do professor porque sou docente há vários anos. Qualquer que seja a perspectiva, o e-learning é novidade, pelo menos no nosso país, e as novidades agradam-me sempre.

A formação online, segundo Azevedo (2005), representa um desafio pelo uso das novas tecnologias na promoção de novas experiências, novas formas de relação com o outro, novas formas de relação com o conhecimento, tal como, e de novas formas de relação com o processo de ensino e aprendizagem. Esta modalidade de formação, projecta-nos para um novo tempo e um novo espaço, virtuais, combinando recursos síncronos e assíncronos.
Entendendo o processo educacional como Ensino “e” Aprendizagem, enfatiza a aprendizagem colaborativa, em comunidade, possibilitadora de "múltiplas interacções" - “construção de conhecimento colectivo que acontece em todos os ângulos dessa relação” (Azevedo: 2005). Este tipo de formação, distinguir-se-ia não apenas pelo uso das novas tecnologias, que permite, afinal, uma nova forma de interacção com os conteúdos informativos e uma nova forma de interacção entre as pessoas, mas, sobretudo, por uma “mudança de paradigma em relação à maneira como nos vemos como educadores, como vemos os nossos alunos e como vemos a própria educação” (Azevedo: 2005).

A este respeito, afirma também Morgado, citando Johansen & Eide (2000) e Duart&Sangrà (1999) “ Uma tal educação, que integre o computador na sua estrutura de ensino (…) vê o seu sucesso depender não só da inovação no campo tecnológico, mas sobretudo dos factores de natureza pedagógica e organizacional” e delimita o conceito de “ensino on-line”, sublinhando a importância da exploração, neste modelo de formação, de “uma nova abordagem pedagógica”.
As maiores vantagens da formação on-line, assim entendida, são a conjugação de recursos síncronos e assíncronos, a construção do conhecimento de modo autónomo e colaborativo e a variedade de combinação de vários tipos de comunicação, entre as quais uma interacção colectiva, ampla: uma “outra ecologia pedagógica” de que fala Azevedo. É na comunicação que reside a sua maior potencialidade. Disso dá conta também Morgado: “há como que uma redescoberta da aprendizagem enquanto processo mediado socialmente, isto é, enquanto construção que, sendo individual, se desenrola num contexto social de interacção e comunicação”.
Uma das limitações deste tipo de formação on-line resume-se, essencialmente, à resistência à mudança dos seus principais actores: alunos e professores; os primeiros por tenderem a ser demasiado passivos, os segundos por não entenderem as vantagens de uma nova pedagogia assente na mediação.

Uns e outros devem saber qual é o seu papel. É das suas acções que depende, afinal, o sucesso deste tipo de formação. Devem situar-se num novo paradigma educacional: O professor como animador de uma comunidade de aprendizagem; o aluno como “um nó de transmissão numa teia de linhas de comunicação” (Azevedo: 2005).

Um professor online deverá, fundamentalmente, motivar e orientar os alunos na construção individual e colaborativa do seu conhecimento, dando um feedback permanente. Hoje temos um número significativo de professores desenvolvendo projectos e actividades mediados por tecnologias. A apropriação das tecnologias pelas escolas passa por três etapas, até ao momento.
Na primeira, as tecnologias são utilizadas para melhorar o que já se vinha fazendo, como o desempenho, a gestão, para automatizar processos e diminuir custos. Na segunda etapa, a escola insere parcialmente as tecnologias no projecto educacional. Cria uma página na Internet com algumas ferramentas de pesquisa e comunicação, divulga textos e endereços interessantes, desenvolve alguns projectos, há actividades no laboratório de informática, mas mantém inalterável a estrutura de aulas, disciplinas e horários. Na terceira, que começa actualmente, com o amadurecimento da sua implantação e o avanço da integração das tecnologias, as universidades e escolas repensam o seu projecto pedagógico, o seu plano estratégico e introduzem mudanças significativas como a flexibilização parcial do currículo, com actividades a distância articuladas com as presenciais.

Os professores, em geral, ainda utilizam as tecnologias para ilustrar aquilo que já faziam para tornar as aulas mais interessantes. Mas ainda falta o domínio técnico-pedagógico que lhes permitirá, nos próximos anos, modificar e inovar os processos de ensino e aprendizagem.
As redes, principalmente a Internet começam a provocar mudanças profundas na educação presencial e a distância. Na presencial, perspectiva-se um novo conceito de ensino-aprendizagem localizado e temporalizado. Podemos aprender desde vários lugares, ao mesmo tempo, online e offline, juntos e separados.

As redes também provocam mudanças profundas na educação a distância (EAD). Antes a EAD era uma actividade solitária e exigia muita auto-disciplina. Agora, com as redes, a EAD continua como uma actividade individual, combinada com a possibilidade de comunicação instantânea, de criar grupos de aprendizagem, integrando a aprendizagem pessoal com a grupal.
A educação presencial incorpora tecnologias, funções, actividades que eram típicas da educação a distância, e a EAD está a descobrir que pode ensinar de forma menos individualista, mantendo um equilíbrio entre a flexibilidade e a interacção.

Quando focamos mais a aprendizagem dos alunos do que o ensino, a publicação da produção deles torna-se fundamental. Recursos como o portfólio, onde os alunos organizam o que produzem e o disponibilizam para consultas, são cada vez mais utilizados. Os blogs, fotologs e videologs são recursos muito interactivos de publicação com possibilidade de fácil actualização e participação de terceiros.

Os blogs, flogs (fotologs ou videologs) são utilizados mais pelos alunos do que pelos professores, mas actualmente há um uso crescente dos blogs por professores dos vários níveis de ensino, incluindo o universitário. Os blogs permitem a actualização constante da informação pelo professor e pelos alunos, favorecem a construção de projectos e pesquisas individuais e em grupo, a divulgação de trabalhos. Com a crescente utilização de imagens, sons e vídeos, os flogs têm tudo para explodir na educação e integrarem-se com outras ferramentas tecnológicas de gestão pedagógica.

A possibilidade dos alunos se expressarem, tornarem as suas ideias e pesquisas visíveis, confere uma dimensão mais significativa aos trabalhos e pesquisas académicas. A Internet possui hoje inúmeros recursos que combinam a publicação e interacção, através de listas, fóruns, chats, blogs. Existem portais de publicação mediados, onde há algum tipo de controle e existem outros abertos, baseados na colaboração de voluntários. O site www.wikipedia.org/ traz um dos esforços mais notáveis no mundo inteiro de divulgação do conhecimento. Milhares de pessoas contribuem para a elaboração de enciclopédias sobre todos os temas, em várias línguas. Qualquer pessoa pode publicar e editar o que outras pessoas colocaram. Só em português foram divulgados mais de 30 mil artigos na wikipedia. Com todos os problemas envolvidos, a ideia de que o conhecimento pode ser co-produzido e divulgado é revolucionária e nunca tinha sido tentada da mesma forma e em grande escala.

A escola com as redes electrónicas abre-se para o mundo, o aluno e o professor expõem-se, divulgam os seus projectos e pesquisas, são avaliados por terceiros, positiva e negativamente. A escola contribui para divulgar as melhores práticas, ajudando outras escolas a encontrar os seus caminhos. A divulgação hoje faz com que o conhecimento compartilhado acelere as mudanças necessárias, agilize as trocas entre alunos, professores, instituições. A escola sai do seu espaço e torna-se uma instituição onde a comunidade pode aprender continuamente. Criam-se servidores de informação. Alunos, professores, a escola e a comunidade beneficiam destes repositórios. Actualmente, a maior parte das teses e dos artigos apresentados em congressos estão publicados na Internet.
Mas nem toda a informação disponível é garantia de qualidade, mas amplia as condições de aprender, de acesso, de intercâmbio, de actualização e de selecção.. A Internet veio colmatar a infoexclusão em que só alguns privilegiados podiam viajar para o exterior e pesquisar nas grandes bibliotecas especializadas das melhores universidades. Hoje podemos fazer praticamente o mesmo sem sair de casa.

Os professores podem ajudar o aluno incentivando-o a questionar, a enfocar questões importantes, a ter critérios na escolha de sites, de avaliação de páginas, a comparar textos com visões diferentes. Os professores podem focar mais a pesquisa do que dar respostas. Podem propor temas interessantes e caminhar dos níveis mais simples de investigação para os mais complexos; das páginas mais coloridas e estimulantes para as mais abstractas; dos vídeos e narrativas concretas para os contextos mais abrangentes e assim ajudar a desenvolver na construção do pensamento, com rupturas sucessivas e uma reorganização semântica contínua.
Uma das formas mais interessantes de desenvolver a pesquisa em grupo na Internet é o webquest. Trata-se de uma actividade de aprendizagem que aproveita a imensa riqueza de informações que, dia a dia, cresce na Internet. Resolver uma webquest é um processo de aprendizagem atraente, porque envolve pesquisa, leitura, interacção, colaboração e criação de um novo produto a partir do material e ideias obtidas. A webquest propicia a socialização da informação: disponível na Internet, pode ser utilizada, compartilhada e até reelaborada por alunos e professores de diferentes partes do mundo. O problema da pesquisa não está na Internet, mas na maior importância que a escola dá ao conteúdo programático do que à pesquisa como eixo fundamental da aprendizagem.
O processo de mudança será mais lento do que todos os que estamos envolvidos em comunidades de prática gostaríamos. Iremos mudando aos poucos, tanto no presencial como na educação a distância. Há uma grande desigualdade económica, de acesso, de maturidade, de motivação das pessoas. Alguns estão prontos para a mudança, outros não. É difícil mudar padrões adquiridos (comportamentais, atitudinais) das organizações, governos, dos profissionais e da sociedade.
Ensinar com as novas tecnologias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar uma imagem de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas actuais de ensinar e de aprender.

Referências Bibliográficas:
Azevedo, c. (2005) Tecnologia Educativa em Rede TE@R

Moran, J.(2004) A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Editora Papirus, (p.89-111)

Morgado, L.(2003) Contributos para uma Pedagogia do Ensino Online Pós-Graduado: Proposta de um Modelo", Revista Discursos Série Perspectivas em Educação, nº1, pp.39-52, Lisboa: Universidade Aberta (em colaboração).

Morgado, L. (2005) Novos Papéis para o Professor /Tutor na Pedagogia Online", in Vidigal, R. & Vidigal, A. Educação, Aprendizagem e Tecnologia, Lisboa: Edições Sílabo.